Este disco com certeza seria destacado na série Grandes Discos Brasileiros por conta da genialidade de técnica, vozes, melodias, letras e interpretações, mas o que me levou a escrever sobre o incrível disco Elis & Tom de 1974 é que ele será tema de vestibular, entrando na lista de leituras obrigatórias da UFRGS para as provas de 2018, ao lado de clássicos e destaques recentes da literatura em língua portuguesa.
Elis Regina é considerada até hoje por muitas pessoas a melhor voz feminina da nossa música brasileira e numa lista com homens e mulheres ela se destaca entre os três maiores. Tom Jobim é um artista que mudou a nossa MPB com sua Bossa Nova, suas composições e seu jeito único de tocar piano e cantar, tornando um dos dez maiores artistas brasileiros de todos os tempos...
... Agora imagine juntar dois grandes artistas da nossa música para a gravação de um disco? Foi o que aconteceu em 1974 e o resultado ficou espetacular. Com as melodias, composições e voz de Tom Jobim se juntando a potente voz e capacidade de interpretação de Elis Regina ambos eternizaram essa parceria.
O disco contou ainda com um time bem forte musicalmente na parte da produção como os arranjos de César Camargo Mariano, pianista e então marido de Elis, que inovou utilizando instrumentos elétricos na bossa nova. No disco tem também o produtor Aloísio de Oliveira, o violonista Hélio Delmiro, o baixista Luizão e o baterista Paulinho Braga.
O disco foi gravado e produzido em Los Angeles, nos Estados Unidos na MGM Studios. Primeiramente os produtores e instrumentistas viajaram, logo depois Tom Jobim e dias depois Elis Regina chegava para gravar sua voz. Haviam incertezas, insegurança e desacordos com a gravação do disco por conta da personalidade musical de Tom, Elis e produtores.
Elis & Tom foi um sucesso de vendas e atendeu a todas as expectativas de Elis, Jobim e da gravadora. Segundo a Billboard, tornou-se um dos álbuns brasileiros mais vendidos de todos os tempos. Mesmo décadas depois do seu lançamento, as vendas continuaram a acontecer. Para promover o disco, Elis e Tom realizaram em outubro de 1974 dois shows no Teatro Bandeirantes em São Paulo e outro no Hotel Nacional do Rio de Janeiro, onde também gravaram um videoclipe de "Águas de Março" para o programa televisivo Fantástico da Rede Globo.
Clipe "Águas de Março"
Clipe "Águas de Março"
Vamos falar de "Águas de Março" que é considerada por muitas pessoas e até por mim como a melhor canção brasileira de todos os tempos por ter uma letra muito bem inspirada, bem composta com um conceito bem pensado, sem falar na melodia que é dezenas de elogios que eu poderia fazer por conta da sua formosa perfeição.
A faixa que abre o disco, merece uma atenção especial. Ela já havia sido interpretada diversas vezes em 1972: foi lançada no compacto Disco de Bolso, o Tom de Jobim e o Tal de João Bosco, depois gravada por Jobim no disco Matita Perê, e nesse mesmo ano pela própria Elis no disco Elis. Ganhou novas roupagens posteriormente, e versões em inglês, mas sem dúvida alguma o sucesso maior foi conquistado pelo dueto deste disco. Foi apontada por estudiosos, jornalistas e críticos de música como a segunda maior canção de todo o cancioneiro brasileiro pela Rolling Stone, perdendo apenas para "Construção", de Chico Buarque, a versão do disco Elis & Tom foi tida como a versão definitiva.
As demais 13 faixas merecem também atenções especiais por conta do capricho e da produção que foi muito bem realizada. Canções já conhecidas interpretadas por Tom Jobim esteve nesse disco novamente e foram repaginadas, tais como "Corcovado" que teve uma bela repaginada em sua melodia, mas sem perder a essência, mas a grande mudança, claro, foi a voz de Elis que deixou a canção ainda mais interessante e assim vemos em todo o disco. Tom Jobim adicionou um vocal abafado aos refrões de Elis nessa faixa, onde o arranjo de flautas cadenciadas e de cordas em segundo plano garantem um clima sensual e triste.
Outra faixa que destaco no disco é "Só Tinha de Ser com Você" que é uma das minhas favoritas. Essa canção foi uma das que mais vi sendo regravadas e em vários estilos, mas na voz de Elis achei a melhor.
Nas faixas "Retrato em Branco e Preto" e "Modinha" foi a única canção do disco a ser inteiramente arranjada por Jobim, o maestro participa apenas com o seu piano, enquanto que a gravação de "Por Toda a Minha Vida" conta apenas com a orquestra e o vocal de Elis. O resultado dessas canções garante uma sonoridade diferente das outras faixas bossanovistas: tanto o vocal quanto o clima orquestrado são mais dramáticos. Tom Jobim tocou piano e violão na faixa "Chovendo na Roseira", a segunda canção ecológica do disco depois de "Águas de Março".
Em 2 de junho de 1990, o disco foi lançado pela primeira vez em CD pela Verve Records (Universal Music). O lançamento foi feito com uma restauração e maior nitidez sonora através da série Verve by Request, que apresentava reedições bastante solicitadas pelos consumidores e ouvintes em geral. Em agosto de 2004, a Trama, coordenada por João Marcelo Bôscoli, filho de Elis, em parceria com a Universal Music, lançou uma edição especial de comemoração dos 30 anos do disco, com supervisão de César Camargo Mariano. A edição especial conta com diálogos de bastidores entre os músicos e duas faixas bônus: uma versão alternativa de "Fotografia" e a canção "Bonita", retirada do repertório porque Elis não havia gostado de sua pronúncia em inglês.
No começo do texto citei que o disco Elis & Tom seria tema de estudos para vestibulares em uma faculdade do Rio Grande do Sul e segundo lendo as notícias, apenas duas canções serão de fato usadas como estudos e interpretações nestas provas e serão elas "Águas de Março" e "Retrato em Branco e Preto".
Faixas
Faixa | Título | Compositor(es) |
1 |
Águas
de Março
|
Tom
Jobim
|
2 |
Pois
É
|
Tom
Jobim, Chico Buarque
|
3 |
Só
Tinha de Ser com Você
|
Tom
Jobim, Aloísio de Oliveira
|
4 |
Modinha
|
Tom
Jobim, Vinicius de Moraes
|
5 |
Triste
|
Tom Jobim
|
6 |
Corcovado
|
Tom Jobim |
7 |
O
Que Tinha de Ser
|
Tom
Jobim, Vinicius de Moraes
|
8 |
Retrato
em Branco e Preto
|
Tom
Jobim, Chico Buarque
|
9 |
Brigas,
Nunca Mais
|
Tom
Jobim, Vinicius de Moraes
|
10 |
Por
toda a Minha Vida
|
Tom Jobim, Vinicius de Moraes |
11 |
Fotografia
|
Tom Jobim
|
12 |
Soneto
de Separação
|
Tom
Jobim, Vinicius de Moraes
|
13 |
Chovendo
na Roseira
|
Tom Jobim
|
14 |
Inútil
Paisagem
|
Tom
Jobim, Aloísio de Oliveira
|
Bônus | ||
1 | Fotografia |
Tom
Jobim
|
2 | Bonita | Tom Jobim |
Ouça o Disco
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