"A Divina Comédia do Carnaval"
FICHA TÉCNICA | |
Presidente | Carnavalesco |
Regina Celi | Renato Lage e Márcia Lage |
Intérprete | Diretor de Bateria |
Leonardo, Serginho e Xande | Mestre Marcão |
Rainha da Bateria | Mestre-Sala e Porta-Bandeira |
Viviane Araújo | Sidcley e Marcella |
Fundação | Títulos |
5 de março de 1953 | 9 |
SINOPSE
“Carnaval do Rio, vendaval de sentidos! (…) Tu és o espasmo da fera na civilização”. (João do Rio)
Quem sou eu nessa selva de ilusões que se ergue quando o mundo real acaba em cinzas para renascer vibrante nas chamas de mais um Carnaval?
Muito prazer! Sou um aventureiro errante, passageiro do delírio. Mas podem me chamar de poeta…
Embarco numa viagem desvairada pelos três reinos místicos de Momo, navegando por um rio de escaldantes tentações.
“Se ‘essa barca’ não virar / Olê, olê, olá… Eu chego lá!”
De mente aberta e alma liberta, lá vou eu!
ALEGRIA INFERNAL
No “Balancê, Balancê”, a embarcação avança pelas águas assombradas de onde avisto as loucas fantasias dos que se entregam sem temor às garras da folia. São milhares de vozes que ecoam pelos abismos mais profundos, entoando uma ladainha profana, hino de tantos carnavais:
“Mas que calor ô-ô-ô-ô-ô-ô”!
Estou em pleno Inferno, ardendo numa incontrolável febre de alegria. No rebuliço dos salões subterrâneos, o Bloco dos Mascarados arma as trincheiras para uma intensa batalha de confetes e serpentinas, libertando as feras que se escondem em cada um de nós.
No decorrer do trajeto, vejo uma procissão pagã inundando de beleza a Avenida das Labaredas, onde ressoam alto os clarins pedindo passagem para os “Tenentes do Diabo”. Numa triunfal aparição, é carregado em glória o Senhor das Profundezas, que uma vez por ano segue a comandar o soberbo desfile das Grandes Sociedades do Além-Túmulo. Nessa euforia aterradora, a ordem do Rei do Mundo Inferior é lavar a alma num irresistível transe coletivo, como se fosse o último Carnaval sobre a face das trevas.
Mas sinto que é hora de partir, ainda que atraído pelas fogosas tentações espalhadas no caminho maligno que tanto me seduz. Sigo, então, a minha trajetória. Ainda há muito Carnaval para pular.
PECADO É NÃO SE ENTREGAR…
Depois de abandonar as veredas infernais, eis que estou aos pés do imponente monte Purgatório, onde o Cordão dos Penitentes se divide em sete grupos de foliões, cada qual com seu pecado capital. Em um cortejo alucinante, sacodem a ladeira sem culpa, sem juízo e sem medo de ser feliz. Afinal, não há castigo para pecados cometidos em nome do prazer.
Mas que folião sou eu nesse reino entre o Inferno e o Céu? Para avançar pela trilha da temperança, é preciso mergulhar nas águas que purificam o espírito e seguir o caminho da salvação.
“Vê? Estão voltando as flores…”
O cenário se modifica e dá lugar a um gracioso cortejo de sonhos e recordações. Abram alas para o esplendor dos Ranchos e suas deslumbrantes flores, aves exuberantes e borboletas telúricas. É a natureza se revelando em um suntuoso Jardim do Éden, bordando de beleza a travessia rumo às portas do reinado derradeiro de Momo.
A DIVINA FOLIA
Purificado, cruzo a grande entrada que me defronta com a visão divinal do firmamento, onde estrelas giram como um carrossel místico suspenso no infinito. Ao seguir o rastro de poeira cósmica, vou percorrendo um universo magnífico e reluzente. Nos altos círculos celestiais, um Corso espacial desfila encanto e lirismo:
“E a lua anda tonta… com tamanho esplendor!”
A minha alma caminhante sorri diante da vastidão do espaço ornamentado de saudade. Decorado por grandiosos painéis multicores, flutuo em glória rumo à Apoteose que encerra esta jornada foliã. Chego, enfim, ao meu destino final!
No último portal do Paraíso, sinto o pulsar da magia dos tambores que emanam o axé das divindades. Iluminado, adentro o templo da divina criação, na dimensão afro-cósmica dos reis, heróis e deuses de Yorubá.
Nesse plano superior, ponho-me diante da Santíssima Trindade do Carnaval, que molda em arte tudo o que nasce do coração do povo. Pai, Filho e Espírito Santo… Juntos de novo na missão de interpretar a alma da nossa gente. Assim, celebro, extasiado, a beleza criada pelas mãos do gênio Arlindo, o eterno querubim arlequinal, a trançar a Divina festança entre rendas e fitas; contemplo a obra magistral de Joãosinho, o menino que virou rei, a tecer em luxo e brilho o maior espetáculo do universo; e, por fim, reverencio o supremo Deus com voz de trovão, Fernando Pamplona… Salve o mestre de muitas artes que enfeita, nas altas esferas de Orum de Todos os Deuses, a grande Festa para os Reis Negros da Academia do Samba, o meu sagrado Paraíso!
Em estado de graça, completo a minha Odisseia carnavalesca. É hora de revelar em poesia todas as maravilhas que vi e que senti ao longo do percurso.
Meu nome é Dante! Sou poeta peregrino que anuncia o grande aprendizado desta Divina Comédia:
A REAL FELICIDADE ESTÁ EM NOSSA INADIÁVEL MISSÃO DE CARNAVALIZAR A VIDA.
Há um Dante dentro de você. Liberte-o!
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