Aproveitando que a canção Faroeste Caboclo voltou a tocar nas rádios e sempre foi um sucesso e agora está nos cinemas, temos uma dúvida: como surgiu esta história toda?
A resposta é difícil e nebulosa, mas aponta caminhos interessantes. Em uma entrevista dada em 1995 e presente no livro Letra, Música e Outras Conversas, de Leoni, Renato Russo falou o seguinte: “‘Faroeste Caboclo’ escrevi em duas tardes, sem mudar uma vírgula. Foi ‘não tinha medo o tal João de Santo Cristo ...’ e foi embora. Eram coisas que, mesmo sem perceber, já vinha trabalhando há muito tempo, e na hora que fui escrever veio tudo direto. Eu sei porque foi fácil. Ela tem um ritmo muito fácil na língua portuguesa. É em cima da divisão do improviso do repente. As coisas foram aparecendo por causa das rimas. Se eu falo do professor, ele tem que parar em Salvador. Se fosse outra rima, ele ia parar em outro lugar. Basicamente já sabia que tipo de história ia ser. É aquela mitologia do herói, James Dean, rebelde sem causa. Mas se você prestar atenção, tem um monte de falhas. Como é cantado, as pessoas não percebem. Uma vez, um pessoal queria fazer um filme em cima da letra. Foi quando deu pra perceber como tem furo na história. Parece que faz sentido, mas porque cargas d’água esse homem encontraria um boiadeiro em Salvador? Que história é essa de trocar as passagens, ‘eu fico aqui, você vai pra Brasília’? Por causa da filha? Por que Maria Lúcia fica com Jeremias? Não dá pra entender! Você tem que bolar sua própria história. O máximo que cheguei é que ela era uma viciadona e o Jeremias era tão mal que disse: ‘Se você não casar comigo, vou matar o João’. Mas também não justifica. E o Santo Cristo, é um banana? A menina é apaixonada por ele e ele fica andando com o Pablo pra cima e pra baixo. Ele é gay? Tem uma porção de coisas na história que não batem, mas quando a gente ouve funciona muito bem”.
Como se viu, o próprio Renato tinha suas críticas em relação à letra. História que vai para outro ponto na versão de Flávio Lemos, baixista do Capital Inicial e companheiro de banda de Renato no Aborto Elétrico. Em entrevista à revista Flashback, em 2004, Flávio falou o seguinte: “Nunca contei essa história pra ninguém. Estava no Rio de Janeiro, na Ilha do Governador, na casa da tia do Renato. Ele gostava de uma prima dele, a Mariana, e eu sabia, mas não rolava nada entre os dois. Fomos viajar para Búzios, a turma toda, menos o Renato. E eu fiquei com a prima dele, transei com ela. Foi a minha primeira vez, eu era virgem. A menina voltou antes pra casa e contou a história pra todo mundo. Quando eu voltei pra Ilha ele já sabia, e considerou aquilo uma traição. Cheguei de madrugada, tinha viajado a noite toda, e ele me acordou bem cedinho, eu estava morrendo de sono. Renato tinha passado a noite inteira escrevendo a música. Ele me disse que eu era o Jeremias, o maconheiro, o sem vergonha. E ele era o Santo Cristo - olha o nome que ele deu a si mesmo! E a prima era a Maria Lúcia. Renato criou um épico com essa história. A gente continuou amigo depois. Pode aparecer alguém que conteste, mas é a mais pura verdade”.
A princípio duas histórias diferentes, mas que, ao analisarmos com um pouco mais de calma, se entrelaçam e parecem apontar para a verdadeira origem da canção.
Com 168 versos e sem refrão, “Faroeste Caboclo” era, nas palavras do próprio Renato Russo, a sua “Hurricane” - alusão a clássica canção de Bob Dylan presente no álbum Desire (1976) e que conta a história do boxeador - também negro, como João de Santo Cristo - Rubin Carter. Segundo o jornalista e historiador Marcelo Fróes, no manuscrito original com a letra de “Faroeste Caboclo” havia uma anotação de Renato dizendo que imaginava a música como um baião cantado por Luiz Gonzaga.
Por Ricardo Seelig
Como se viu, o próprio Renato tinha suas críticas em relação à letra. História que vai para outro ponto na versão de Flávio Lemos, baixista do Capital Inicial e companheiro de banda de Renato no Aborto Elétrico. Em entrevista à revista Flashback, em 2004, Flávio falou o seguinte: “Nunca contei essa história pra ninguém. Estava no Rio de Janeiro, na Ilha do Governador, na casa da tia do Renato. Ele gostava de uma prima dele, a Mariana, e eu sabia, mas não rolava nada entre os dois. Fomos viajar para Búzios, a turma toda, menos o Renato. E eu fiquei com a prima dele, transei com ela. Foi a minha primeira vez, eu era virgem. A menina voltou antes pra casa e contou a história pra todo mundo. Quando eu voltei pra Ilha ele já sabia, e considerou aquilo uma traição. Cheguei de madrugada, tinha viajado a noite toda, e ele me acordou bem cedinho, eu estava morrendo de sono. Renato tinha passado a noite inteira escrevendo a música. Ele me disse que eu era o Jeremias, o maconheiro, o sem vergonha. E ele era o Santo Cristo - olha o nome que ele deu a si mesmo! E a prima era a Maria Lúcia. Renato criou um épico com essa história. A gente continuou amigo depois. Pode aparecer alguém que conteste, mas é a mais pura verdade”.
A princípio duas histórias diferentes, mas que, ao analisarmos com um pouco mais de calma, se entrelaçam e parecem apontar para a verdadeira origem da canção.
Com 168 versos e sem refrão, “Faroeste Caboclo” era, nas palavras do próprio Renato Russo, a sua “Hurricane” - alusão a clássica canção de Bob Dylan presente no álbum Desire (1976) e que conta a história do boxeador - também negro, como João de Santo Cristo - Rubin Carter. Segundo o jornalista e historiador Marcelo Fróes, no manuscrito original com a letra de “Faroeste Caboclo” havia uma anotação de Renato dizendo que imaginava a música como um baião cantado por Luiz Gonzaga.
Por Ricardo Seelig
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